Relatos
É isso aê galera, como não tive a oportunidade de fazer o meu snowboardzinho no inverno deles (Japão, Europa, EUA, Canadá) algumas pessoas tiveram a sorte e oportunidade de fazer. Pedi para que algumas pessoas fizessem um relato de como foi a experiência, já que pra maioria foi a primeira vez.
Vamos lá, o primeiro que vou postar é do amigo do meu sobrinho Diogo, Paulo Kemper e foi no Japão.
Saímos do dorm, mochila nas costas, rumo à ilha mais fria do Japão. Rumores indicavam temperaturas abaixo de -10ºC, mas o que vem a ser isso? Iríamos descobrir. Começamos bem a viagem, fomos no novo "Avião dos Pokémons" da ANA. Não sei a história direito, mas era um avião inteiro com o motivo "Pokémon", fora era pintado, dentro nos assentos tinham toalhas com o pikachu e sua trupe, as aeromoças usavam aventais também com as ilustrações tiradas do anime... definitivamente isso é Japão mesmo.Chegamos em Sapporo (salvo engano a cidade mais importante da ilha de Hokkaido), já era de noite, e não chegamos a sentir o frio dentro do aeroporto, mas fora tinha neve bagarai, TUDO branco.Interessante a paisagem, até a hora que você entra no ônibus que vai te levar até o hotel. Mas 3 horas de ônibus numa rodovia cujas bordas tem morros de neve que muitas vezes superam a altura dos ônibus e ainda está nevando forte fazem o interessante ser assustador ao mesmo tempo. Da-lhe descabaçamento da neve! Ainda tivemos uma parada pra comprar café (onde compramos uma lata de uma coisa de leite e amêndoas, muito boa por sinal) e outra para colocar correntes em virtude da neve pesada.Chegamos em Niseko, e já víamos snowboarders e esquiadores nas ruas, era noite mas mesmo assim é possível esquiar, e os que estavam lá não pareciam muito iniciantes. Vexa à vista, seguimos à pousada de nome curioso, "Slow Life", onde iríamos passar as próximas 3 noites.Fizeram um rangoso pra nós lá, chegamos no quarto, desembalei o dvd player e assistimos um filme enquanto o sono não vinha. Rolou também de varejar um Ofurô lá, se tiverem a chance alguma vez, podem ir que vale a pena. Dormimos. Quer dizer, não foi tão fácil assim dormir, uma vez que três cuecas no mesmo quarto conseguem falar merda suficiente para protelar ao máximo o horário de dormir. Já ví que em Tóquio, com os 3 morando juntos, vamos precisar nos educar.Segundo dia, começamos cedo, 8h já tomando o café e recebendo os snowboards e botas. A bota de astronauta é power, admito que é quente e dá um sentimento de segurança, mas que não deixa de ser TOSCA, não deixa. Chegamos à base da gôndola que levava até uma das descidas, entramos no bondinho e fomos à primeira descida. O que se viu na vídeo-aula se mostrou mais difícil do que se imaginava. A primeira "aventura" foi colocar o pé de base preso no snowboard e o outro deixar livre para, digamos assim, taxiar até o ponto onde começa a descida. Chegando lá, depois de muito esforço, fomos começar o treino básico de controle do board, que não é nada menos que descer com a prancha colocada em perpendicular com a sua trajetória, ou seja, é como se você estivesse com as pernas em posição de "descansar" (militares) e se deslocando pra frente (conhecido também como "backside"). Parece fá-cil, mas é difi-cíl... um belo dia você tem que aprender. Depois de um tempo récorde de descida, algo como mais de 40 min salvo engano, consegui chegar à base. O Diogo e o Leonardo já tinham chegado e subiram em outro nesse tempo, e como eles tavam no meio ainda, resolvi subir e descer também. Não foi tão difícil a segunda, mas mandei muitos Awsome Frost Ollie Mac Twist até chegar novamente à base. Awsome = incrível / frost = congelado / ollie = manobra de pulo / mac = ? / twist = giro. Junta tudo e dá "cair de cara na neve, capotar, dar um rolamento e cair sentado de bunda pronto pra levantar de novo". Tenho que dizer que fiquei um tanto quanto bom em rolamentos lá, porém a perna já estava no final das forças. A propósito, qual é o nome do músculo oposto à panturrilha? É esse maldito, semi-inútil músculo que é usado ao extremo para fazer o controle básico do "backside". Quem tem isso forte salvo os praticantes de snowboard? Não se usa pra nada! Bom, reclamações à parte, não tinha jeito, tive que aturar a dor.Fomos almoçar. Boca livre num hotel, 1300 ienes (mais ou menos 13 dólares, poder de compra equivalente a 13 reais no Brasil, creio eu). Lá só tinham os gringos, em maioria vindos da Austrália, e alguns japoneses. Barriga cheia, pausa de 30 min, voltamos à descida. Achamos um circuito de iniciantes, deu pra treinar mais daí e começar a pegar confiança. E, claro, "pegar confiança" significa "cair mais e mais forte". Dei uma barrigada no chão que achei que ia morrer, mas como coloquei gelo na mesma hora da queda (ou "o gelo foi 'gentilmente' colocado no momento em que atingi a neve"), deu pra superar.Sol se pondo, retornamos à pousada, comemos, mais uma rodada de ofurô e às 9:00 já estávamos dormindo. Para vocês verem o que é cansaço, não teve nenhuma "hora da zoação", tão pouco alguém reclamando de ronco ou de não conseguir dormir. Dormimos bem. Acordamos. A impressão de que vários pequenos demônios estavam mastigando cada músculo do meu corpo era forte, e de lembrar que eu teria uma sessão mais forte que a de ontem fazia eles colocarem mais vontade em cada mordida. Nesta hora o pequeno Jacó da minha mente toma voz e fala "Já pagou, agora vai ter que fazer". É, vamo que vamo. Ao contrario do dia anterior, o qual tivemos um café da manhã estilo ocidental (bacon, ovos fritos, pão...), hoje foi um à-la-nihon, com peixe, arroz papa, algas e tudo que se tem direito. Fome ou não, tava bom (tá que eu não encarei a ova de salmão, que essa até mesmo o Jacó bundou), colocamos as botas e enquanto estávamos pegando os boards escutamos o ônibus indo embora. Beleza, ganhamos 15min até o próximo pra ficar brincando nas paredes de neve que facilmente ultrapassavam minha altura. depois de se acostumar mais uma vez com a neve, chegou o ônibus. Neste momento os demoniozinhos, creio eu, resolveram dar uma folga e se esqueceram de voltar.Chegamos na gôndola. Já não nevava que nem ontem, mas tinha um amistoso aviso de "Aviso de Avalanche" na porta. "FODA-SE", disse o Jacó mais uma vez, se bem que eu não estava mais me preocupando muito com dor, tão pouco com cair e me estabocar. A sensação de deslizar de snowboard é muito boa, ainda mais agora que nós conseguíamos fazer uma boa parte do percurso sem cair. Era apenas o segundo dia, mas já não podia imaginar o amanhã sem pegar o ônibus de manhã e seguir pra montanha. Vamos aproveitar o tempo que temos, e se vier neve de cima da montanha, que venha!As descidas seguintes foram bem bacanas, zoamos pacas, ficamos fazendo graça, arriscando uma hora ou outra um frontside, e aproveitando bem a friaca da montanha. Almoçamos mais uma vez no restaurante que só dá gringo. Comida atrai os demoniozinhos, creio eu. Tiramos 45min de folga depois do almoço para dar uma dormida no lobby do hotel e fazer alongamentos. E como comida atrai, neve espanta. Voltamos no gás, e desta vez estávamos decididos a esquiar até ficar de noite, experimentar a sensação do "naitaa" (algo como "nighter", coisa de japonês). Descemos mais algumas séries dos percursos até agora conhecidos, quando resolvemos inovar em um que era um tanto grande, e dito de dificuldade fácil. Meu óculos só embaçava, começou a nevar leve, mas seguimos igual. Não sei como são classificadas as dificuldades, mas depois de ir lá creio que "quanto menor a inclinação, é dito de nível mais fácil". Agora, EM QUE PLANETA UMA PISTA PLANA É FÁCIL? Sério, inclinação de menos de 10º ninguém merece, nós já somos iniciantes, fazer um snowboard manter a energia num plano é complicado, volta e meia nós caíamos por falta de velocidade, e para voltar a deslizar era necessário desprender um dos pés, dar várias remadas, rezar um Pai Nosso e dez Ave Marias e esperar que algo parecido com uma descida estivesse depois da curva. E esta descida era curta o suficiente para você pegar um pouco de velocidade, ter que parar pra prender o pé E NÃO TER MAIS DESCIDA. Sério, lá foi tenso, demoramos pra sair do dito "Percurso Holiday". Lógico, enquanto descíamos, os snowboarders de alto nível nos passavam com facildade, só pra piorar nossa situação.Óculos embaçado, nevando e escurecendo, chegamos mais uma vez à base da gôndola. "Pinico, vamos descansar um pouco" foi a idéia geral. Foi divertido na cabana, tinha uma galera lá, nego se amarrou nos Wallys gringos. Ao sair de lá o Colômbia bundou e foi pro hotel que almoçamos, eu e o Diogo resolvemos seguir o plano do "naitaa".Mais uma vez ao topo, parada pra foto no termômetro e seguir novamente aos percursos nível médio (Na parte de baixo do termômetro está escrito 白い恋人, shiroi coibito, ou namorada branca). Como quase não havia nevado, a neve tava já um pouco dura, tava difícil de manter o controle, mas fomos mesmo assim. Nesta hora, com aquele espírito de "tamo no final, e já tô com um pouco de moral", finalmente comecei a esboçar umas séries de frontside/backside/frontside/backside, deixar o board de frente, sentir o "rush" de adrenalina quando seu board pega mais de 50km/h e você vê a descida forte chegando, tem que freiar e o backside não quer entrar, tem que ser de frontside mesmo (que eu não havia dominado ainda), freiar e conseguir estabilizar, passar a descida forte, e começar tudo de novo. Claro que muitas vezes na hora de entrar o frontside pra freiar eu errava, ou errava o balanço do backside e capotava, mas eu já não sentia mais nada. Quer dizer, eu achava que não sentia mais nada, até que eu consegui uma queda forte de bunda, acertando bem o cóxi (ou cóx, ou como quer que se escreva o nome do bendito ossinho do final da coluna). "AI MEU C*!" foi a frase que fez o Diogo chegar com aquela expressão mista de riso e preocupação até onde eu havia caído. "Pelo menos não é cimento" foi o que veio na minha cabeça, subi no board e fechei a descida. O Colômbia resolveu voltar à "Slow Life" enquanto descemos mais uma vez. Depois eu que bundei, estava cansado o suficiente para não confiar mais em mim, uma vez que eu ainda estava inteiro, dolorido mas inteiro, e não queria voltar para Osaka com algum membro engessado. O Diogo desceu mais uma vez, enquanto eu me dediquei a ficar no hotel desta vez, esperando ele. Acabando a descida, retornamos à Pousada, comemos e resolvemos dar um rolé de noite na cidade para agitar alguma coisa a fim de despedida. Morremos numa espécie de lanchonete/bar feita de toras de madeira (lembra a Mormaii do Pontão, só que o andar de cima). Batemos um milkshake enquanto víamos uns vídeos de snowboard e nossas forças indo embora. Já batia aquela saudade da montanha, mas foi bom. Na volta passamos fazendo graça, curtindo os -15ºC, a neve e ainda aproveitamos pra dar a clássica "mijada na neve". Chegando na pousada, tivemos que esperar mais cerca de uma hora pra poder tomar banho, e como eu sou sortudo, perdi no janken (pedra-papel-tesoura, o original) e sobrei de último. Depois de tudo, deixar as malas semi-prontas para poder sair às 7 e meia da matina. Finalmente, dormimos.
Guerra pra acordar, ligar o aquecedor, dormir mais um pouco, acordar, socar o que tava fora dentro da mala, se vestir e descer na pilha para poder fazer o check-out e varejar a carona para o bendito "Welcome Center".Café da manhã? nada, onigiri (bolinho de arroz). E eu também não sei o que tem de "welcome" nesse lugar, tava uma neve power e fechada a porta.Ficamos na espera até que a tia chegou pra abrir, foi o suficiente pra deixar as mochilas brancas. Mais 3 horas de ônibus, que foram substituídas por dormir o que não havíamos dormido. Aeroporto, voltas para conseguir achar o lugar certo do check-in, pegamos um rangoso que tínhamos direito, pegamos também umas bolsas um tanto quanto duvidosas que tínhamos direito também e fomos procurar lembranças pra galera de Osaka (fessores/colegas. tradição do Japão dar alguma coisa -geralmente de comer- para os conhecidos). Rodamos quase todos os estandes que tínham biscoitos e outras amostras grátis para, depois de provar bem, comprar uma caixa de uns mini cheese-cakes e mini choco-cakes pra galera. Entramos no avião, desta vez um avião comum, sem motivos de anime nem nada. Batemos o rango que ganhamos de graça ao chegar no avião e depois de tanto hesitar a aeromoça foi puxar conversa conosco no procedimento de pouso. Claro, como quase todo mundo, ela TAMBÉM mandava bem de snowbord. Não, não era gata, antes que perguntem, mas era gente boa.Desembarcamos no "calor" de Osaka, com seus 10ºC positivos e relembrando a vida longe da montanha, com preocupações do tipo provas, aulas, mudança para Tóquio... Falando em aulas, estávamos perdendo o primeiro dia de aulas. Mesmo não indo pra aula, resolvi ir no colégio entregar logo para as minhas professoras os doces de Hokkaido, certificar que não havia nenhum problema em ter faltado e ver o que tinha que fazer para o dia seguinte. Voltamos à rotina...